O Guardião

Sou sombra, sou até luar...Ave na paisagem que te faz brilhar...Sou miragem, diante do teu olhar!

Textos


Só me lembro do estrondo, ali ao lado.
Algumas gotas escuras, no interior do barraco.
Tapamento razoável...Eu reformei!
Pouca luz, no interior, e também do lado de fora.
Já anoitecera...Gritos...Um estardalhaço de choros.
Não fui ver...Já imaginava alguma tragédia no ar.
Se o tempo estivesse bom...Tiroteio e morte!
Mas, com aquela chuvarada...Alguém ficou soterrado.
É pura matemática...Se nascerem muitos, o perigo aumenta.
Mas a Igreja não liga...Não quer um Estado Laico.
Deus também chorava incansavelmente.
Só que as suas lágrimas fizeram um barraco desabar.
A pobre menina, não conseguiu sair.
Nem ela e nem a sua boneca. Morreram agarradinhas.
Meu cão arranhou a porta. Deixei-o entrar.
Cão molhado e fedido...Cão amigo!
Os gritos cessaram; a chuva, e as lágrimas, com certeza não.
Uma espécie de  silencio apavorador, mas não era o fim.
Outros barracos cederiam às lágrimas de Deus.
Outras mães, posteriormente, também engravidariam em prol da militância religiosa.
Aonde vamos parar?
Encontraram o corpo...Pobre menina...Senti tristeza...Abri a porta, olhei para o céu.
O tempo dava sinais de melhoras. Ou seria a minha esperança aflorada?
Todos dispersaram, e por ali, só os pobres e desatinados familiares. Alguns retornaram para as suas casas para fazer o almoço, outros foram vadiar, outros ainda, as crianças, foram brincar nos escombros de uma outra construção; aquela, que desabou na noite anterior matando outras duas pessoas.
Mas, a vida continua...O tempo melhorou, dias depois, é claro. Em uma noite de luar, justo na noite da missa da pobre menina, mais estrondos...Tiros, um homem caiu; era o pai da pobre criança. Não houve resistência, a dívida era muito mais alta do que todo aquela tristeza.
Olhei de soslaio e entrei. Tomei um gole, e adormeci.
A vida não é assim...Mas, ficou assim!
O Guardião
Enviado por O Guardião em 24/01/2008
Alterado em 24/06/2008


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