O Guardião

Sou sombra, sou até luar...Ave na paisagem que te faz brilhar...Sou miragem, diante do teu olhar!

Textos


Ao perceber, bem de longe
Um alarde, um fuzuê

Um convercê maldizido
Foi logo se aproximando
Pra aconchegar seu ouvido
E da fofoca se informar

“Viram só a Maria
Toda pintada e arredia
Lá nos braços de Aquino
Bem pertinho do curral”

“Se João não se cuidar
Vai logo tratar de ser
Além de corno e pinguço
Pai do que aparecer”

“Pois Maria, de outro par
Vai logo é engravidar”

Aquilo foi o bastante
Pra João se enfurecer
Pegou um copo na mão
Foi pra perto do alambique

Tomou dose caprichada
E de posse de um facão
Investiu contra a safada
Vapt, vupt, e ai

Salta pra lá e pra cá
Aquino tomou as dores
Capoeirista que era
Puxou João pelo braço

Jogou o pobre no chão
Deu um beijo na Maria

Rodopiou um babado
Triscando que nem cotia
Até tomar o facão
Deu meia dúzia de riscos

E tava feita a buchada
Dilacerou duas tripas
Cinco urubus avoando
No corpo do tal João

Tava só o Delegado
Dois polícia apaisanado
O Prefeito e um Edil
Eu acho que ninguém viu

Êta festa de arromba
Comentava um tal tiziu

Depois do enterro do corno
Maria e o tal Aquino
Já bolinavam juntos
No barraco do ex-João

Mas Maria, velha tia
Logo enjoou de Aquino
Porque um garoto-menino
Que perto dali morava

Um dia, num banho de Rio
Vendo o matuto nadar
Arregalou os seus olhos
Na vara de se apoiar

Ficou roxinha a vadia
Até quase se afogar

Rendendo até boba-a-boca
E um corpo a corpo enrolado
Que nem o tiziu acoitado
Se encarregou de espalhar


No mesmo mundo que o corno
Perdeu sua identidade
Coisa, que lá, mais tarde
Com certeza e com desdém

Aquino da capoeira
De enorme perversidade
Na velha estrada da vida
A perderia também
O Guardião
Enviado por O Guardião em 15/05/2008
Alterado em 15/05/2008


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